Reis é outro dos muitos heterónimos de Fernando Pessoa. Este teve uma educação latinista, desta forma os seus poemas são baseados na sintaxe latina - o verbo aparece no fim das frases, tem ainda influências dos Deuses e da filosofia grega. A sua poesia tem um estilo denso e construído, ou seja é um produto intelectual.
A poesia de Ricardo Reis é moralista- apresenta uma moral, transmite ensinamentos de vida e ainda é uma procura constante da perfeição.
Características da poesia de Ricardo Reis
A poesia de Ricardo Reis é marcada por duas características principais: o epicurismo e o estoicismo.
O epicurismo é uma doutrina filosófica que defende o prazer como caminho da felicidade. Para alcançar a felicidade, o homem bom deve atingir a ataraxia, ou seja tranquilidade absoluta, através dos prazeres moderados e evitando a dor. O homem não deve temer a morte e deve guiar-se no Mundo através das sensações sem esquecer que estas são sempre organizadas pela inteligência. Segundo o epicurismo, a vida do homem deverá ser sempre equilibrada e honesta.
Ex:
“Não há tristezas
Nem alegrias
Na nossa vida.
Assim saibamos,
Sábios incautos,
Não a viver,
…
Girassóis sempre
Fitando o Sol,
Da vida iremos
Tranquilos, tendo
Nem o remorso
De ter vivido.” – Estrofe 8 do poema “Mestre, são plácidas”
No poema “Mestre, são plácidas” Reis defende a filosofia de vida epicurista, para que o homem consiga atingir a ataraxia. No fim do poema, Reis, propõe-nos que saibamos não viver, mas passar como um rio porque o tempo passa de qualquer forma. Logo, não vale a pena fazer o que quer que seja. Desta forma morreremos tranquilos, já que nem sequer chegámos a viver.
O estoicismo é uma corrente filosófica que defende a harmonia com a natureza e a aceitação das coisas tal como elas são, ou seja, aceitação do destino de uma forma tranquila, sem tentativas de o mudar. Reis considera que não vale a pena alimentar desejos ou esperanças pois é inútil tentar mudar algo que já está definido e também porque existe uma grande incompatibilidade entre aquilo que se deseja e aquilo que se alcança. O ideal é a apatia, a ausência de paixão e desejos.
Ex:
No poema “Cada um cumpre o destino que lhe cumpre”, o sujeito poético revela o seu conformismo face ao destino.
“Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.” – 3.ª Quadra do poema “Cada um cumpre o destino que lhe cumpre”,
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.” – 3.ª Quadra do poema “Cada um cumpre o destino que lhe cumpre”,
No poema “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio”, é referido a ausência de paixões e desejos que o estoicismo defende.
“Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
(…)
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.” – Versos do poema “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.”,
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.” – Versos do poema “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.”,
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O poeta defende ainda o prazer do momento (“carpe diem”) como caminho para a felicidade, ou seja devemos viver o momento presente, aproveitando moderadamente cada minuto pois é a única coisa que temos. No entanto, esse prazer deve ser vivido moderadamente, sem se ceder aos impulsos do destino.
Ex:
“Não tenhas nada nas mãos
Nem uma memória na alma,
Nem uma memória na alma,
Que quando te puserem
Nas mãos o óbolo último,
Nas mãos o óbolo último,
Ao abrirem-te as mãos
Nada te cairá.
Nada te cairá.
(…)
Senta-te ao sol. Abdica
E sê rei de ti próprio”. – Poema “Não tenhas nada nas mãos”
E sê rei de ti próprio”. – Poema “Não tenhas nada nas mãos”
Neste poema, para além de ser referido o ideal do “carpe diem”, também é referido que em vida devemos viver sozinhos, sem nos apegarmos a bens materiais nem a pessoas, pois quanto mais nos prendermos em vida às coisas, mais difícil vai ser de nos libertarmos delas quando a morte chegar.
“Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o o bolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.” – Últimas 2 estrofes do poema “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.”
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o o bolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.” – Últimas 2 estrofes do poema “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.”
Este é outro exemplo de que não nos devemos apegar às coisas da vida, desta forma vamos ser mais felizes.
A nível formal, Reis revela um estilo trabalhado, rigoroso e clássico. Recorre à sintaxe clássica latina, à ode e emprega arcaísmos clássicos eruditas.
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