A dor de pensar é o segundo tema abordado em Pessoa ortónimo.
O sujeito poético submete-se a uma análise psicológica, chegando a diversas conclusões.

Ex:
“Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.” – 2ª Estrofe do poema Não sei quantas almas tenho
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.” – 2ª Estrofe do poema Não sei quantas almas tenho
· Pessoa sabe que é impossível ser consciente e inconsciente simultaneamente, porque estes estados se opõem. Conscientemente, pensa-se; inconscientemente, sente-se e vive-se -- e é aqui que o seu sofrimento começa: por não conseguir parar de pensar, não consegue sentir e, por isso, não consegue realizar os seus desejos e vive frustrado.
VOINA by ~vacillica on deviantART |
O pensamento é insaciável, porque quem pensa quer sempre saber mais e, por isso, nunca se satisfaz. Pensar é inútil, porque inibe a felicidade e impede de chegar a quaisquer conclusões.
Ex:
"Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura." - v5/8, est1, Liberdade
· Por isso, gostava de não pensar, mas ao mesmo tempo queria saber que não estava a pensar.
Ex:
“Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência
E a consciência disso!” – 5ª quadra do poema Ela canta, pobre ceifeira
Ter a tua alegre inconsciência
E a consciência disso!” – 5ª quadra do poema Ela canta, pobre ceifeira
Nesta quadra, o sujeito poético faz um apelo à ceifeira, para que consiga ter a sua inconsciência e ao mesmo tempo ter consciência disso.
· É referido também a dor que resulta da distância imensa entre o que se quer – ou seja, o Tudo – e o que se realiza – ou seja Nada. Os seus projetos nunca se realizam por completo porque o que ele quer atingir é infinito e o que é consegue atingir é nada. O que surge desta situação é um enorme sentimento de frustração.
Ex:
“Tudo que faço ou medito
Fica sempre na metade
Querendo, quero o infinito
Fazendo, nada é verdade” – 1ª quadra do poema Tudo que faço ou medito
· Ao pensar o sujeito poético apercebe-se de que a vida é curta e que mais cedo ou mais tarde irá acabar, então decide que não vale a pena viver e, por isso, deseja a morte.
Ex:
“Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!” – 6ª estrofe do poema Ela canta, pobre ceifeira
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!” – 6ª estrofe do poema Ela canta, pobre ceifeira
O sujeito poético, no ortónimo, sente-se, assim, condenado a pensar e acha que isso é mau, porque pensar impede-o de ser ele próprio, o que o impede de se autoconhecer.
Poemas sobre a dor de pensar: Não sei quantas almas tenho; Tudo que faço ou medito; Ela canta, pobre ceifeira; Gato que brincas na rua; Leve, breve, suave; Liberdade; Mar. Manhã.
![]() |
a fragmentação e o autodesconhecimento |
![]() |
a dor de pensar (sentir/pensar, inconsciência/consciência) |
Sem comentários:
Enviar um comentário