Previamente, o teatro clássico foi estudado. Este foi desenvolvido com base em fundamentos aristotélicos. A sua imagem de marca são as máscaras que representavam diferentes emoções. Estas máscaras pretendiam imitar a realidade. Para quê? Nada mais, nada menos do que fazer o público identificar-se com as personagens. Recordemos que este tipo de teatro era essencialmente pedagógico, de caráter instrutivo: provocando a piedade ou o terror no público, condicionava-se a multidão a aprender com os erros das personagens, ou melhor: a influenciar o público a não fazer aquilo que era condenado nas peças.
O teatro épico, ou brechtiano, não pretende imitar a realidade, mas sim provocar a estranheza e o distanciamento do público. Se este não se identificar, não se envolver emocionalmente com nenhuma das personagens da peça, o seu pensamento deixa de estar toldados pelos seus sentimentos, permitindo, portanto, uma avaliação mais racional e crítica. O objetivo é, portanto, provocar uma atitude ativa no público, fazendo-o adotar uma posição crítica, social e / ou política. O espetador, em vez de sentir pena pela personagem, ou em vez de se amedrontar com uma ação, quebra a sua rotina, para refletir acerca de ações que se calhar tem feito, sem se aperceber dos seus impactos, ou sem se questionar: será que estou a agir bem?
Por exemplo, os atores não tentam agradar ao público. Pelo contrário, querem chamar atenção. Muitas vezes, fazem de propósito para que seja difícil serem ouvidos: viram-se de costas, ou falam baixo, entre outras ações semelhantes. Desta forma, obrigam o público a prestar muita atenção ao que dizem: o espetador deixa a sua posição confortável na cadeira em que se senta.
«Esta teoria fundamenta-se numa análise marxista dos diferentes componentes do teatro e das suas relações com a sociedade: o espetador deve ser "produtivo", desempenhar um papel ativo na representação teatral. O autor, o encenador, o decorador e os atores não podem fazer-lhe imposições nem mergulhá-lo numa espécie de passividade hipnótica.
É preciso fazer apelo ao espírito crítico e a capacidade de julgamento do público, incitando-o a tomar decisões sociais.»
José António Camelo e Maria Helena Pecante, in «O Judeu» de Bernardo Santareno
Concluímos, portanto, que o teatro brechtiano não é mimético. O seu objetivo é provocar uma atitude racional nos espetadores - algo conseguido através do distanciamento.
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